Um Papa latino-americano! Francisco chega ao 11º ano do seu papado como um dos pontífices mais transformadores e renovadores da história do cristianismo e, em particular, da história da Igreja Católica ocidental. Comemoremos! Dom Neri José, bispo de Juína-MT, o definiu bem: “incansável apostolado no cuidado de todo o rebanho, o povo de Deus a ele confiado”, com uma “preocupação com o estado de vida que se encontra a Casa Comum, especialmente pelo carinho com os pobres e vulneráveis da sociedade de hoje”.

UM CONSERVADOR LIBERTÁRIO

Francisco é um cristão muito interessante e um tanto singular. Não é um católico progressista seguidor da Teologia da Libertação. Quando ele foi eleito há 11 anos, dei uma entrevista 24 horas depois para o jornal Correio da Paraíba. A entrevista foi publicada com destaque em um dia de domingo. Nela, rebati a acusação de Francisco ter sido um aliado da ditadura argentina e expliquei que ele é teologicamente conservador e socialmente avançado. Fui muito questionado nos 15 dias posteriores à publicação. Hoje, os analistas e pesquisadores são unânimes em constatar este perfil do Papa.

CASA COMUM

Na Encíclica Laudato si (Louvado seja), o apóstolo argentino define sua visão no subtítulo: “sobre o cuidado da casa comum”. Este cuidado aponta o consumismo capitalista, a degradação ambiental e as alterações climáticas como preocupações centrais. O Papa atual é um homem do seu tempo. Ele não carrega o anticomunismo obsessivo de João Paulo II, que mandava calar teólogos que não concordassem totalmente com ele, ou o reacionarismo inquisitorial de Bento XVI, que presidiu a então Congregação para a Doutrina da Fé, herdeira da Santa Inquisição na Cúria, que agora foi reformada por Francisco. Francisco é um reformador na recepção histórica do termo.

LEGADO

Quando o papado atual tiver chegado ao fim, ficarão as sólidas reformas promovidas pelo Papa jesuíta. A mais famosa delas trata do combate à pedofilia e a outros escândalos que macularam a vida da igreja. As mudanças na Cúria, no Banco do Vaticano e, principalmente, no trato dos excluídos da Terra, são transformações e mudanças tão importantes quanto a primeira que citei. Porém, destaco algumas ações pontuais: esforços para abrandar o efeito danoso do celibato, valorização das mulheres – religiosas e leigas -, reconhecimento dos direitos espirituais LGBT+ (“quem sou eu para julgar?”) e aceitação dos divorciados na vida católica. Então, vida longa a Francisco!!

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