O atual contexto de duas guerras envolvendo altos interesses ocidentais, principalmente norte-americanos, trouxe para a mídia o debate sobre a natureza da Guerra. A mídia corporativa tem atribuído à religião um papel que a religião não tem na contemporaneidade ocidental. A motivação religiosa não preside as decisões guerreiras nos terrenos da Ucrânia e de Gaza, por exemplo! Este argumento é um erro histórico, consciente ou não.
RELIGIÃO PARA A GUERRA
No passado histórico, em nações ocidentais, principalmente europeias, a guerra realmente teve em muitos momentos a adesão religiosa fenomenológica profunda que guiava governantes e governados. Hoje, após a secularização do Ocidente – que Max Weber denominou Desencantamento do Mundo – é muito pouco provável que os governantes de Israel, de Gaza, da Rússia e da Ucrânia adotem a guerra por um profundo pertencimento e adesão a uma ou outra religião. São homens e mulheres do nosso tempo, já nasceram num mundo desmitologizado. Então, qual o papel da religião?
ALIENAÇÃO PARA RECRUTAMENTO
Quando governantes em guerra apontam a religião como uma motivação de grande relevo, eles estão mirando o convencimento dos seus governados de que a guerra é tão necessária que chega a ser sagrada… Em períodos históricos anteriores, muitos Estados tiveram presente a adesão religiosa como um suporte ideológico “real”. As cruzadas e as reformas são exemplos disto. A consolidação dos Estados Nacionais até hoje, porém, ocorreu atrelada a um longo processo de secularização do mundo, que persiste. Normatizações racionalizadoras dos Estados, como a noção do bom governo e a adoção da diplomacia, foram paulatinamente retirando dos governantes um possível vínculo divino.
PARA QUE RELIGIÃO, ENTÃO?
O leitor pode se perguntar o motivo verdadeiro da religião ser alegada na guerra aos quatro ventos. Ocorre, que a religião é um discurso fácil para muitos governantes. Apelar para a religião é uma forma de transformá-la conscientemente em alienação. Alienar setores numerosos das sociedades ajuda a recrutar e comandar pessoas que colocam suas vidas em risco muitas vezes em nome de uma alegação divina falsa, pois não existe adesão profunda naqueles que comandam. Caberia aos clérigos das religiões instrumentalizadas para a guerra recusar o uso delas desta forma, mas as próprias instituições religiosas costumam submeter-se a interesses estatais… Por enquanto, não apareceu luz na obscuridade deste túnel.