NÃO É AUTO-AJUDA

Esta é a primeira constatação: a chamada auto-ajuda não ajuda. Para encontrar a esperança que habita na Alma de cada ser humano como possibilidade inata ao seu desenvolvimento psicológico, é preciso ter a maior de todas as coragens: a de olhar para dentro de si. A coragem nasce da ativação da nossa capacidade de reconhecermos que somos naturalmente sós. Ocorre, inicialmente, ainda no seio materno, quando começamos a perceber nossa diferença entre nós e os outros. Se este caminho psicológico permanece em boa direção, teremos força para encontrar a esperança no fundo da Alma pelo resto da vida. Do contrário, precisaremos buscá-la em outro instante da nossa existência…

DO TRAJETO DA ALMA

Foi Carl Jung que demonstrou de forma incontestável que a nossa alma é habitada por personas múltiplas. Para dar voz e sentido à Esperança, é preciso ter no coração os símbolos e arquétipos que abrem a porta rígida do ego narcísico que há em nós mesmos. As religiões, assim como as filosofias de vida, podem ser ótimos caminhos para chegarmos até o canto mais obscuro que há em nosso interior psíquico, onde se encontra escondida e tímida a criança que fomos um dia, portadora de um sistema simbólico esperançoso que de alguma forma a nossa história de vida nos forjou e nos legou.

É TRABALHO!

Para se ter esperança ativada, é preciso trabalhar por ela e para ela. Ela não é uma força exterior que nos invade, mas sim uma força que há dentro de nós pela condição “natural” da criatura humana enquanto criatura psicológica. Se não entendemos isso, ficamos buscando nas palavras de lideranças religiosas ou na imitação do comportamento alheio ou mesmo, ainda, na pessoa amada, aquilo que já está conosco, mas que pode doer antes que deixemos florescer para esperançar.

NÃO É FELICIDADE

O conto ficcional da “felicidade absoluta” tomou as mídias sociais e, muito antes, a própria cultura moderna, sem nenhuma cerimónia. A dura crítica feita no século XIX aos princípios religiosos teológicos provocou o esvaziamento de parte do conjunto central de valores do Ocidente Cristão. Para fazer de conta que se está tampando o buraco deste vazio que nos invade, foi providenciado o “Deus Futuro”, que promete trazer a felicidade amanhã de manhã junto com o consumo e com o prazer. Esse “Deus Futuro” serve ao mercado capitalista e não ao desenvolvimento interior da sua alma. A verdadeira Esperança não quer conversa com ele. A esperança independe da felicidade imediata, por incrível que isso possa lhe parecer à primeira vista.

O QUE FAZER?

Em um mundo pandêmico e tão vazio de motivos para se ter esperança, como e por que esperançar? Ora, esperançar é sobreviver. Quem perde a esperança padece de morte psíquica antes da morte física. Aqui, não se trata de uma conversinha adocicada sobre histórias da carochinha para você se sentir melhorzinho. Trata-se aqui da SUA saúde mental. Você pode escolher os sistemas simbólicos do amor ou os sistemas simbólicos da dor. Porém, por favor, arque você mesmo com as consequências das escolhas que fizer. Se se arrepender das consequências ou das escolhas, procure ajuda terapêutica autorizada com a humildade que a sua Esperança merece. Dê uma chance à criança que existe em você.

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