“Eu não acredito, eu sei”, disse Carl Jung a um repórter norte-americano atônito. O repórter havia perguntado se Jung acreditava em Deus. Pensava ter encontrado uma forma de colocar em xeque o experiente psicólogo analítico, fundador de uma das mais importantes teorias do conhecimento ocidental do século 20. Jung já tinha a resposta em sua vivência e em sua história de vida. Deus não é questão de crença, mais sim parte da psique humana.

DEUS PARA JUNG

Jung tinha um vasto conhecimento, incluindo antropologia, mitologia, história e filosofia, por exemplo. Ele era o principal porta-voz dos novos paradigmas da ciência em seu tempo. Despido do racionalismo, faceta irracionalista do iluminismo ilustrado, Jung sabia que Deus pode e deve ser pensado cientificamente (sic) à luz de diversos saberes. Dedicamos nossa carreira académica a seguir o caminho dele e de outros grandes pensadores do Ocidente cristão, além de pensadores de outras culturas e civilizações.

FILOSOFIA

O pensamento filosófico costuma se apresentar como incompatível com o Fenômeno Religioso e com Deus. Não é. Ao contrário, o pensamento filosófico não existiria se o homem não tivesse a necessidade ontológica de ser um questionador do mundo, um filósofo da vida em busca do propósito dela. Ao filosofar, buscamos Deus. Uns o buscam como entidade metafísica e outros como parte da psique. Os dois caminhos levam ao mesmo destino e ambos são transcendentes na medida em que os seus vários aspectos éticos são transcendentes, como toda ética…

CIÊNCIA

Se ao conhecimento filosófico subjaz o transcendente, ao pensamento científico podemos e devemos atribuir, por honestidade histórica, a forte interseção entre a própria vida religiosa e diversos métodos científicos. Porém, para além disso, tanto na epistemologia quanto nas hermenêuticas científicas, o pensamento religioso foi e é diuturnamente transformado em noções científicas. É um processo semelhante ao que ocorreu com o Direito ocidental (Max Weber). Aliás, há intelectuais que têm puro e simples medo ou razões ideológico-corporativas de admitir estas origens inegáveis.

DEUS

Portanto, é naquele ou naquilo que os rosacruzes chamam de “deus do seu coração”, que se enraízam a filosofia e a ciência. Este “caminho” ocorre através da psique, como demonstra Jung, mas também da espiritualidade profunda, que motiva a busca da felicidade humana, inclusive na perspectiva cristã (Kant). Enfim, ainda precisamos superar o simplismo dos debates do século 19, que opõem a razão e a espiritualidade ou a razão e o Fenômeno Religioso de forma simplória e reducionista. Com todo respeito, após, por exemplo, Levi-Strauss, Weber, Bachelard, Jung, Eliade e Durand, insistir no racionalismo já pode ser tido como falta de estudo… (Dedicado a Herlla Palmeira.)

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