A transição de poder no Brasil da extrema-direita para a esquerda democrática que lidera uma Frente Ampla, tem forte rebatimento nas religiões. A relação destas duas forças políticas com o campo religioso é muito diferente. No poder, a direita reafirmou o que já se sabe dela: é aliada das igrejas cristãs mais conservadoras nas pautas sociais, idólatras da “Teologia da Prosperidade” (TP). À esquerda o tema é bem mais complexo e o debate nacional talvez esteja defasado…
ALÉM DA LIBERTAÇÃO
Já passou o tempo em que a Teologia da Libertação (TL) era hegemônica nas esquerdas quando o assunto era religião. A influência da TL ainda existe, mas já não é a única e parece ter uma presença menor nos dias de hoje quando pensamos as esquerdas como um todo. É claro que uma grande influência da TL permanece na genética do Partido dos Trabalhadores, que nasceu no seio da Igreja Católica. Contudo, evangélicos distantes da TP e comprometidos com a democracia e com a justiça social também estão cada vez mais presentes há muito tempo dentro do PT, junto com outras religiões da rica pluralidade religiosa do Brasil.
RESISTÊNCIA
Entretanto, a relação da esquerda brasileira com o campo religioso ainda é marcada – principalmente para militantes de gerações mais longevas! – por um preconceito pretensamente racional de considerar que toda religião é alienação e que a esquerda não deve tratar deste assunto “inferior”. Esta postura politicamente suicida está, finalmente, sendo vencida também graças à presença enriquecedora das Ciências das Religiões no debate sobre Diversidade Religiosa dentro da esquerda democrática. É claro que a religião pode ser sinônimo de alienação, mas também pode ser sinônimo de libertação, como mostra a História das Religiões fartamente.
NA NOVA ESQUERDA
Chamo de Nova Esquerda aquela que se congrega em torno da chamada Teoria Monetária Moderna, tão bem defendida nas primárias do Partido Democrata dos Estados Unidos pelo senador socialista Berne Sanders. (Se você não sabe do que se trata, sugiro que dê um “google”!) Esta Nova Esquerda não teme o Mercado Livre, desde que certos preceitos éticos e humanistas sejam respeitados em forma de políticas públicas constitucionais para o combate à miséria e ao desemprego crônico do capitalismo. Mas, o que isso tem a ver com a Diversidade Religiosa?
E EU COM ISSO?!
Uma esquerda renovada não deve ter em seu DNA preconceito contra o dinheiro ou rejeição total ao capital. A regulação da sociedade nem precisa de um Estado hipertrofiado, nem pode prescindir, de forma alguma, de um Estado forte. Cada nação pode encontrar o seu “caminho do meio” neste ponto. Aqui, o importante é que a velha noção pecaminosa da esquerda revolucionária quanto ao dinheiro, nascida, por incrível que pareça, na religião judaico-cristã, deixa de existir por inutilidade e caduquice… É uma vitória da Diversidade Religiosa!
REPOSICIONAMENTO Este reposicionamento econômico do pensamento progressista precisa ser mais forte no Brasil. Com ele, podemos avançar mais no campo social mantendo o equilíbrio e a credibilidade junto ao mercado, indispensáveis na atual correlação de forças ainda existentes no mundo globalizado capitalista. A superação deste contexto não se dará agora. Assim sendo, a esquerda pode, deve e terá que dialogar com as pautas religiosas tanto para atualizar-se quanto para sobreviver de forma viável elei