Para continuar o tema, cito um texto conceitual de Agenor Brighenti. É importante para todxs, mas principalmente para quem pensa que pensa o Serviço Público. Vejamos. “Nos dias atuais, concomitante à crise da razão técnica-instrumental, ressurge o interesse pela espiritualidade e, em decorrência, pela ética – ‘se Deus não existe, tudo está permitido’ (Dostoiewski)”.

RAZÃO E ÉTICA

“Não que razão e ética necessariamente se excluam, mas historicamente, um determinado tipo de razão contribuiu para o eclipse da ética ou pelo menos com o atual relativismo moral – ‘é bom aquilo que é bom para mim; é mau aquilo que é mau para mim’ (Sartre). Conhecemos o fato: com o advento da modernidade desencadeou-se um processo de dissociação entre razão e fé, em contraposição ao período escolástico, no qual a fé se sobrepunha à razão. Sem dúvida, a autonomia da razão se fazia mais que necessária, até para salvar a fé de ser um ato irracional.” O problema ocorre quando a razão quer matar e substituir a fé.

O PAPEL DA FÉ

“Entretanto, a razão, da legítima autonomia em relação à fé, pouco a pouco, orgulhosa de suas possibilidades, foi sobrepondo-se à fé, desembocando em sua separação. E Kant operou um corte entre a razão teórica – o horizonte das verdades verificáveis na subjetividade transcendental e, a razão prática, para onde ele remeteu a fé, – o horizonte dos imperativos categóricos da moral. Passa-se da fé dogmática à razão dogmatizada.”

MODERNIDADE

“Na segunda modernidade ou segunda ilustração, os filósofos da práxis, além de restringirem o conhecimento ao horizonte do real, entendido como estruturalmente material, encarregaram-se de demonstrar a relatividade de toda verdade identificada, porquanto toda forma de conhecimento é contingente ao sujeito, a interesses e a um lugar determinado.”

RAZÃO DOGMÁTICA?

“(…) Hoje, na modernidade tardia ou num contexto de construção de uma terceira ilustração, volta-se a descobrir o nexo entre morte de Deus e morte da verdade racional, na medida em que o funcionamento racional da razão pressupõe a confiança ou a fé na própria razão (H. Kung).” Como veremos em comentário na próxima semana, no Serviço Público este racionalismo dogmático torna-se carreirismo e individualismo, fazendo crescer o número de servidores submetidos ao que Max Weber tão bem identificou como Patrimonialismo.

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