Nossas escolas, quase todas de base positivista, nos ensinam que a memória pode ser resgatada e que a imaginação é algo menos confiável. Ainda que esta percepção permaneça forte na sociedade, sabe-se hoje que grande parte da memória é resultado da faculdade da imaginação. Precisamos imaginar memória para suprir a deficiência dela, característica da nossa espécie homo sapiens.

MEMÓRIA IMAGINADA

As religiões compõem um conjunto de eufemismos que servem para “imaginar memória” dentro do tempo mítico religioso. Como o tema é delicado e pode ser interpretado negativamente, já cuidamos de ressaltar que não existe razão para considerar a religião como algo menor em função disso. A História, por exemplo, “imagina memória” e acalenta nossos corações contra o vazio da Alma até mais que as instituições religiosas na contemporaneidade ocidental. Portanto, a busca de uma “objetividade” numa memória que deveria ser plena e total é simplesmente inútil. O sapiens esquece muito mais do que lembra.

ANIMAIS MEMORIOSOS

No livro “Uma História da Imaginação”, o historiador espanhol Felipe Fernandez-Armesto compilou e realizou pesquisas que demonstram que outros símios, além de nós, têm uma memória melhor para “fatos reais”. A chipanzé Panzee, da Geórgia State University, EUA, por exemplo, recorda a localização de objetos em situações complexas sem receber prêmios por isso! Ela é apenas um pequeno exemplo dos muitos que a ciência tem para oferecer ao demonstrar que a memória de outros seres vivos é, em determinados aspectos, melhor que a nossa. Talvez isso explique o fato de a Evolução nos ter “dado” uma capacidade aparentemente maior na linguagem com a fala e uma faculdade imaginativa para diminuir a angústia do esquecimento.

HISTÓRIA OU IMAGINAÇÃO?

“As ineficiências da memória humana transpõe a diferença entre memória e imaginação”, nos afirma Armesto. “Confundimos com cópias literais dos eventos que recordamos lembranças que imaginosamente transformamos”, arremata. Ou seja, se a psicanálise já considera que o indivíduo não sabe com exatidão o que se passou em sua vida, podemos considerar também que as sociedades não sabem com exatidão o que se passou com elas. Então, já que toda história interage com a imaginação, precisamos reposicionar o debate sobre a “verdade” aceitando melhor e dialogando com o Conhecimento Religioso! Religião e História devem confluir no campo do conhecimento, porém sem os autoritarismos das respectivas instituições…

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