O falecimento de Rita Lee nos faz pensar sobre o papel dos ídolos midiáticos no coração da nossa sociedade contemporânea. Em versos como: “se Deus quiser…”, “Deus me proteja…” e “o amor é cristão, o sexo é pagão…”, a rockeira, a seu modo, lutou pela mudança nas relações patriarcais de gênero no Brasil. A sintonia com o grande público tornou-a ela própria objeto de um tipo de devoção.
DA “MORTE DE DEUS”
A consolidação da razão como paradigma central no Ocidente, gerou um filhote radical que é um movimento social chamado de racionalismo. Para ele, o Deus de Abraão teria morrido no coração da cultura em função dos postulados racionalistas. Só que não! Mas, para muitos dos nossos contemporâneos e principalmente para os segmentos sociais que não comungam do imaginário teísta, outras formas de crença vieram substituir a figura divina na vida cultural.
DOS “DEUSES MIDIÁTICOS”
A adorável roqueira acalentou muitos corações, atiçou mentes contra várias situações de injustiça e questionou a sisudez da moral. Como muitos ídolos do pop, ela substituiu vivências antigamente exclusivas da religião na Alma de milhões de pessoas. Será que a nossa adesão a artistas tem componente religioso? Diretamente ou ritualisticamente, não. Porém, enquanto substituto mundano de um Deus distanciado, sim!
EUFEMISMO É VIDA
Para Gilbert Durand, o que impulsiona o homem para fazer cultura e atirar-se na história é a consciência da morte. O Imaginário que nasce desta angústia é repleto de eufemismos para enfrentá-la. Dentre eles, na contemporaneidade um tanto racionalista, os ídolos do pop podem desempenhar um papel eufêmico até terapêutico. Foi o caso de Rita, que nos deixa saudosos da sua arte e da sua ousadia do Bem.