Marielle Franco não foi uma ativista de direitos humanos diretamente relacionada a movimentos religiosos, mas sua presença na luta desenvolveu laços com setores religiosos que têm propósitos semelhantes. Após o seu assassinato, sabemos com certeza que se realizou pelo menos um culto evangélico completamente dedicado a ela. O pesquisador Pedro Costa Azevedo esteve neste culto e escreveu sobre ele. A Igreja Cristã Metropolitana – ICM Rio realizou o evento. A ICM é uma igreja evangélica inclusiva, ou seja, admite a presença de minorias sociais, tais como a comunidade LGBT+. Abro espaço para a palavra do pesquisador a seguir.
QUEM FOI/É MARIELLE
“No dia 21 de março de 2018, o microfone no culto ecumênico na ICM-Rio ‘estava aberto’ para pronunciamentos acerca da execução da vereadora Marielle Franco, do Partido Socialismo Liberdade (PSOL), e de seu motorista, Anderson Gomes, ocorrida no dia 14 de março, semana anterior ao culto em questão. Moradora de uma área periférica da cidade, apresentava-se como ‘cria da Maré’, local que integrou. Um curso de pré-vestibular comunitário que a possibilitou ingressar na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), no curso de Ciências Sociais. (Era) Mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF).”
EVANGÉLICOS NÃO CONSERVADORES
“Cabe enfatizar o modo com que a ICM-Rio apresenta-se em seu website: como uma igreja protestante, ecumênica e inclusiva. O segundo termo, ecumenismo, tem como entendimento o diálogo inter-religioso cristão com a Igreja Ortodoxa, a Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja Anglicana e outros grupos religiosos, além de marcar o respeito com as manifestações e crenças de outras matrizes religiosas. Esse diálogo constituiu uma posição inclusiva pautada no entendimento das relações e oosições de gênero, sexualidade e outras formas de injustiça social, assumindo-se como ‘uma igreja radicalmente dos direitos humanos’.”
O CULTO
A ICM “manifestou a sua posição de defesa das minorias sociais, tendo na figura da Vereadora a intersecção das categorias de raça, classe, gênero sexualidade e religião. O pedido de justiça foi encarado como uma forma de cidadania por poder exercer o direito de (se) manifestar contra as estruturas de poder sobre a desigualdade social. Essa atividade suscitou diferentes formas de se relacionar com a trajetória de Marielle, como pontuado na fala da vereadora no evento em que participou horas antes de sua execução, destacando o seu ‘lugar de mulher, mulher negra, bissexual’. Não fosse a morte brutal e prematura, é bem possível que este cristianismo socialmente engajado perpassasse diretamente a vida de Marielle com o passar dos anos…