Existe salvação sem religião? É claro que sim, mas só se concedemos a noção usual do termo religião. Hoje, aqui, tal noção nos basta: a religião como detentora de diversas formulações do Sagrado quase sempre representadas por clérigos. Nesta percepção, a religião antecedeu psicologia e psicanálise no Cuidado Espiritual. Hoje, no terceiro século da hegemonia racionalista no Ocidente, quem está na berlinda é a religião.

PSICANÁLISE

Na ciência moderna, a primeira grande crítica sistemática ao Fenômeno Religioso se fez no equivocado texto de Sigmund Freud “O Futuro de uma Ilusão”. A “ilusão” não só não passou, como cresceu… O Fenômeno foi revigorado de forma multifacetada e complexa. As “novas” religiões e religiosidades da contemporaneidade estão em todo lugar e até ganharam expressões políticas e empresariais antes desconhecidas, como o neopentecostalismo e a renovação carismática.

NEGACIONISMO

O “q” da questão na ordem do dia é outro, muito além – ou aquém – dos novos formatos do fenômeno e da historicidade religiosa. Para tentar reafirmar os pretensos “profetas da razão” que cantaram em prosa e verso o fim da religião, o racionalista dos nossos dias tenta, em média, negar o dado empírico do vertiginoso crescimento das religiões. É preciso diferenciar negacionismo científico de convicções pessoais anti-religiosos.

COMPREENSÃO

O estudo da religião não implica em adesão, mas a honestidade científica implica em admitir a reformulação e o novo fortalecimento do campo religioso, para o bem ou para o mal. As correntes religiosas que crescem são, em sua maioria, empresariais e tendentes a uma espécie de franqueamento de clérigos que fundam novas “filiais”. Muitos de nós consideramos equivocadas estas novas correntes, mas nelas parece estar o futuro da religião, ilusória ou não.

FREUD EXPLICA?

O simples fato de um equívoco acadêmico na vida de um pensador genial como Freud, não invalida seu pensamento, suas epistemologias e suas hermenêuticas. Chego a pensar que é preciso uma espécie de divã social coletivo para que tenhamos uma aceitação do “fato religioso” contemporâneo para o debate dos intelectuais acerca do cenário atual. Ficar tentando desmoralizar as religiões antes de admitir o impacto cada vez maior delas nos nossos dias, não passa de um ato de alienação. Antes de tudo, é para estes alienados que deve servir o divã.

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