Para estudar religião, é preciso admitir suas múltiplas dimensões. A religião não pode ser reduzida ao vetor da sua história sociocultural ou ao poder das institucionalidades religiosas. Aqueles que não admitem a liberdade de compreender o tema também enquanto fenômeno, costumam ter comportamento patrulhador de “reais defensores da verdadeira ciência” … A disputa entre as visões fenomenológicas e históricas das religiões parece estar se acentuando…
DO FENÔMENO
“Primeiro, o homem criou o Fenômeno Religioso e compreendeu o mundo! E o Verbo se fez fenômeno.” É isso mesmo: o Fenômeno Religioso é um eufemismo profundo que o homo sapiens imaginou e imagina na dura realidade de saber-se mortal. Imaginando, ele tenta eternizar-se diante do caos que a realidade nua e crua lhe apresenta. Mas, não é só a religião formal que está no fenômeno. A razão e a história, por exemplo, são tão fenomenológicas e imaginárias quanto as religiões.
DO FATO
A noção de fato está diretamente ligada à noção de verdade no uso cotidiano destas palavras. O fato seria uma prova, no sentido jurídico das provas. Sem desmerecer o Direito, é preciso aceitar e compreender que não há fatos absolutos e verdadeiros a serem conhecidos. A capacidade humana de perceber o real não nos permite sensorialidade para o que seria “o real como um todo”. Na condição humana, o “todo real” é caótico, insuportável. Portanto, se você consegue perceber o real, é porque compreendeu uma fração dele. Uma fração no limite do aceitável!
DO IMAGINÁRIO
Existe um saber que permite o conhecimento do fenômeno e do fato sem o reducionismo que provoca uma oposição simplificadora entre eles. É o conhecimento do imaginário através de pensadores como Gilbert Durand. Nele, fenômeno e fato não são redutíveis um ao outro, mas complementares! Eles procedem da única fonte possível, que é o capital pensado da humanidade. Durand chamou este capital de imaginário.
DISPUTAS
Portanto, é de uma oposição falsa que vive esta insistente disputa entre “racionalistas” e “fenomenológicos”, seja na área de Ciências (e História) das Religiões” ou em qualquer uma outra. Avalio, pela minha experiência cotidiana na academia, que a insistência na disputa vem da insolência arrogante dos racionalistas, que tudo querem dominar. Alienados pelo desespero de suas teorias “universais”, que prometem explicação conjunta e total do mundo (mas, não conseguem entregá-la), os racionalistas partem para o ataque. A “nova” fenomenologia, porém, é um “fato” portador de futuro…