Amanhã, 8 de dezembro, comemora-se o dia de Iemanjá, certo? Na Paraíba, sim, é certo. Mas, mesmo na Paraíba, há quem siga o calendário majoritário nas religiões afro do Brasil: 2 de fevereiro. Por que será que a Paraíba tem esta particularidade? Quem visitar a capital João Pessoa no dia de amanhã, vai encontrar uma festa imensa para Iemanjá na Praia do Cabo Branco. Ao mesmo tempo, encontrará os festejos católicos de Nossa Senhora da Conceição. Ou seja, um dia de hibridismo ou sincretismo religioso!
A LEI DE 1966
Foi o governador Agripino Maia que, em 6 de novembro de 1966, em plena Ditadura Militar, promulgou a lei que a Assembleia Legislativa havia aprovado e que, na prática, impedia a polícia de entrar nos Terreiros de Candomblé, Umbanda e Jurema Sagrada sem autorização judicial. Nascia ali o primeiro avanço legislativo da Diversidade Religiosa na Paraíba. O Povo de Santo entrou em festa logo após a promulgação! Consideramos, aliás, que esta data deveria ser consagrada oficialmente como o Dia da Diversidade Religiosa no Estado.
“OBRIGADO, GOVERNADOR!”
Em agradecimento, parte significativa dos terreiros adotou até uma canção onde se faz o agradecimento ao governador Maia. Após a promulgação, logo viria o dia de Nossa Senhora da Conceição, que é uma das entidades cristãs hibridizadas com Iemanjá. Os terreiros resolveram participar da festa ao seu modo. Nascia o Dia de Iemanjá. A Paraíba respirava os ares da modernidade contemporânea pela primeira vez no ambiente das religiões. O sertanejo Agripino Maia ficou mal visto por setores conservadores e fundamentalistas da capital, até hoje saudosos das senzalas e dos capitães-do-mato… Foi ele, inclusive, que determinou a colocação da estátua de Iemanjá na praia do Cabo Branco diante da própria casa à época.
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Também no contexto católico, os anos 60 do século XX trouxeram para João Pessoa o olhar generoso de Dom José Maria Pires, primeiro bispo preto da Parahyba. Talvez tenha sido o período mais intenso de avanços da liberdade religiosa no estado até hoje. Independentemente desta singularidade paraibana, a interseção entre as narrativas míticas de Maria e de Iemanjá é um patrimônio histórico-cultural do povo brasileiro a ser preservado e defendido. Aliás, já passa da hora de relocar e recuperar a estátua de Iemanjá na praia do Cabo Branco! Alô, autoridades!