A relação entre estes dois assuntos costuma entrar em pauta dentro de polêmicas. A recente publicação do livro “Que Bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério”, de Natália Pasternak e Carlos Orsi, reacendeu esta polêmica velha e ultrapassada. Aliás, este é um livro que nasce ultrapassado. Se há uma percepção de ciência nos seus autores, o atual contexto científico já dificulta até reconhecê-la. É um livro que chega com sabor de 100 anos atrás, pois acusar a Psicanálise de não ser ciência é coisa do passado. É jogar para a torcida e não para o jogo.

FREUD E JUNG

No entanto, como não achamos necessário resenhar tal publicação, nosso assunto aqui é outro. No próprio meio psicanalítico, as vivências religiosas são percebidas de maneiras diferentes pelas diferentes correntes. Escolhemos Sigmund Freud e Carl Jung para ilustrarmos este tema. Freud era um judeu ateu. Jung era um cristão que acreditava à sua maneira. Seus métodos convergem em muitos pontos, mas divergem em outros tantos. Em termos de religião, a posição pessoal de cada um não repercute em censura ou idolatria. À rigor, ambas as correntes recebem analisandos teístas e ateístas. A diferença está nas teorias.

ACREDITA EM DEUS?

Freud considerava o Deus revelado uma criação humana. Jung, perguntado se acreditava em Deus, respondeu: “eu não creio, eu sei”. Como o debate está empobrecido e o livro de Pasternak só o empobreceu mais ainda, devemos afirmar que a posição sobre a existência ou não de Deus não resume a posição de alguém sobre religião. Religião é muito mais que isso. E também devemos afirmar que as diferenças de percepção na psicanálise não impedem a percepção da religião como problema! Psicanálise é muito mais que isso.

EM QUE SÉCULO ESTAMOS?

No século 19, este debate poderia ser tido como atual. Hoje, porém, este é um debate com cheiro de mofo. Entro nele para repudiá-lo. Olhar a religião de forma simplista costuma ser a fuga dos que não estudaram a literatura científica sobre religião… Quanto mais se percebe sua complexidade mais se pode combater suas muitas intolerâncias e extravagâncias. Negar a religião enquanto fenômeno é como negar o ar que se respira. O fenômeno religioso é da condição humana, desesperada diante da morte inelutável e criadora de eufemismos para suportar o caos. Sem transcendência não há esperança. Nem toda transcendência, porém, precisa da figura de um deus. Só isso, já recolocaria o debate!

 

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