O historiador britânico Erick Hobsbawn tinha uma especial capacidade de escrever sobre temas culturais. Interessou-se, por exemplo, pelas histórias do jazz e do futebol. Para ele, a religião leiga da classe operária é o futebol. Logo aí, ver-se a sofisticação do pensamento dele, que considera o conceito de religião de maneira abrangente, incluindo nele uma atividade humana que não é igreja e nem tem transcendência teísta. Hobsbawn foi muito longevo e viveu boa parte do século 20, experimentando a história que ele mesmo analisava.

OPERÁRIOS DO FUTEBOL

O futebol nasceu aristocrático e foi literalmente conquistado pela classe trabalhadora no primeiro quartel do século 20. Foi na Inglaterra, berço do futebol, que a presença de times de operários no campeonato nacional forçou a definição de regras justas para o esporte. Estes primeiros clubes de operários no futebol representaram muito para a classe trabalhadora. No futebol, era possível expressar a esperança de derrotar as regras injustas impostos pelas classes dominantes em outro campo da vida: o trabalho! No Brasil, o Ferroviário do Ceará talvez seja o clube que melhor expressa esta característica histórica.

ROBERTO DA MATTA

Analisando o futebol brasileiro décadas depois, o antropólogo Roberto da Matta viu no futebol o campo de expressão das disputas sociais brasileiras de maneira menos injusta e mais previsível, pois o futebol tem regras que faltam à sociedade brasileira. Hobsbawn e Matta ressaltaram o importante papel do futebol para o relacionamento social e para a Esperança dos trabalhadores no capitalismo ou para fora dele! A partir do século passado, várias instituições sociais passaram a fazer o papel que a religião fez até meados do século 19.

O SANTA CRUZ

No Recife, o Santa Cruz é o clube mais próximo a reproduzir este papel vital da sociabilidade dos trabalhadores entre si. O Sport Recife, fundado por britânicos, tem forte ligação com a chamada pequena-burguesia urbana. O Náutico nasceu aristocrático, mas foi se complexificando ao longo da sua história. Há décadas, o Santa Cruz vem enfrentando dificuldades financeiras e problemas de gestão que agora se agravaram. O fato de ser um clube popular não justifica tais problemas. O Mestre José Nivaldo Júnior, aliás, já demonstrou neste jornal que o Santa Cruz tem jeito. Na atual ordem capitalista, onde o trabalho vai sendo precarizado, os direitos trabalhistas destruídos e os regimes neofascistas festejado como bons aliados, clubes como o Santa Cruz precisam se fortalecer.

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