Talvez não exista deglutição mais estranha que esta que existiu na Europa de meados da Idade Média (séc. 12) ao início do século 19, passando incólume até pelo chamado “século das luzes”, o 18. Comer vísceras e outros restos mortais ressecados das antigas múmias era considerado um ato medicinal que quase tudo poderia curar. A página @historia.history, do Prof. Jorge Luis no Instagram, nos brindou com o detalhamento desta história, que agora comento. Vamos degluti-la?
O SIMBOLISMO DO CORPO
Considerar que da deglutição de seres humanos mortos pode vir algo de muito positivo para o vivo que o deglute, não é exclusividade deste hábito europeu. O corpo humano é símbolo e simbolizante. Sobre ele recaem algumas fantasias e mitificações (no sentido antropológico da palavra Mito) dando-lhe um sentido de existir. Portanto, o canibalismo dos cadáveres mumificados é uma simbolização de vida feita a partir dos mortos, ainda que nos seja tão estranho hoje. O uso deste hábito como remédio pelos médicos desta longa época, nos é ainda mais estranho!!
CARNE DE MÚMIA
O historiador Karl Dannenfelt jogou luz sobre este assunto. “Múmia” era a palavra que designava uma substância encontrada em rochas unicamente na Pérsia e que ganhou fama no mundo árabe por ser muito cara e ter efeitos medicinais curativos. Segundo ele, por um erro de tradução e interpretação, o mundo medieval ocidental atribuiu o valor medicinal da múmia à condição dos cadáveres das conhecidas múmias egípcias. Como tudo, isto também virou mercadoria no capitalismo: comer múmia era uma refeição bem cara e rara. Veja na foto um egípcio vendendo múmias no meio da rua bem antes delas serem consideradas Patrimônio Histórico da Humanidade. Chegou-se ao ponto de múmias falsificadas serem feitas com cadáveres recém falecidos para suprir a demanda…
DIVERSIDADE CULTURAL
O consumo de múmias foi substituído pelo consumo medicinal de ossos do crânio humano. Este, prevaleceu até 1909, pelo menos na Grã-Bretanha. Mas, como encarar um assunto destes? Alguns, ficarão com nojo, outros, reafirmarão preconceitos, mas o melhor mesmo é admitir que a humanidade possui muitas culturas com hábitos diferentes dos nossos. Vivemos em diversidades!