No dia 8 de dezembro de cada ano, juntamente com as festividades de Nossa Senhora da Conceição, a capital da Paraíba comemora a Festa de Iemanjá. Sabemos que o dia 2 de fevereiro é aquele dedicado nacionalmente a este Orixá dos mares. Porém, como não poderia deixar de ser, esta singularidade paraibana tem história. História das Religiões, caro!
PASSADO DE OPRESSÃO
A religião dos orixás foi trazida para o Brasil na marra. Os mercadores coloniais portugueses enxergaram um jeitinho de transformar a escravidão por dívida culturalmente presente na África e em muitas regiões do planeta, em uma escravidão total, absoluta, que fazia pessoas humanas perderem o seu nome e tentava fazer com que perdesse também suas referências culturais e religiosas, além de seus laços familiares. Estava inventada a chamada escravidão moderna.
PASSADO COLONIAL PRESENTE
O passado colonial português está fortemente presente na vida brasileira de hoje em dia. Para o bem e para o mal. A escravidão deixou marcas e feridas abertas. Parte da elite brasileira continua pensando que o povo deve trabalhar como escravo. Os orixás foram uma forma de encontrar resistência e trocas culturais estratégicas para sobreviver num mundo de injustiças e crueldades oficializadas. O Candomblé, a Jurema Sagrada e a Umbanda são as principais religiões desta tradição no Brasil de hoje. Na Paraíba, uma longa história de criminalização e perseguição levou os terreiros a serem cenários de crueldade e ataques da polícia e de vários setores do cristianismo.
JOÃO AGRIPINO
Somente no governo de João Agripino, em plena Ditadura Militar, por paradoxal que possa parecer, a polícia foi – pela Lei 3.443, de 6 de novembro de 1966, aprovada pela Assembleia Legislativa! – finalmente de entrar sem ordem judicial em terreiros das religiões dos orixás. Em agradecimento ao governador da época, o povo-de-santo instituiu a festa de Iemanjá no dia 8 de dezembro, após sancionada a Lei. O governador tinha uma sensibilidade sertaneja. No sertão, brancos, negros e indígenas eram menos separados socialmente durante a colonização, pois imperava a pecuária e o desafio pragmático que representa sobreviver diante da difícil natureza da região árida. Os sertanejos foram mais pragmáticos na aceitação da presença Negra com suas tradições culturais… João Agripino autorizou a colocação de uma imagem de Iemanjá em frente à casa de praia dele na praia de Tambaú. Esta imagem existe até hoje.
DIA DA DIVERSIDADE RELIGIOSA
Sendo assim, o dia 8 de dezembro tornou-se a maior vivência em Diversidade Religiosa que a Paraíba possui. Católicos com Nossa Senhora do Carmo, evangélicos em eventos que reagem à festa católica e aos cultos africanos e a bela festa de Iemanjá no point principal.da beira-mar da capital, convidam para a reflexão sobre o convívio entre as religiões. Propomos há alguns anos que o dia 6 de novembro seja oficialmente o Dia da Diversidade Religiosa da Paraíba em alusão à Lei que diminuiu significativamente a violência e os crimes cometidos contra os terreiros durante séculos e séculos da nossa história. Que os meios políticos se sensibilizem para esta proposta!