Toda guerra costuma trazer repercussões no campo religioso. O conflito entre Rússia e Ucrânia não é diferente. O Patriarca russo Kirill não gostou de ser comparado a um “coroinha de Putin” pelo Papa Francisco, notória autoridade moral no ocidente. O episódio revela que, apesar de mais de um século de esforço ecumênico, a tensão entre as igrejas que cismaram no século 11 permanece.

ORTODOXIAS

A influência da igreja romana no ocidente nos faz considerar que o cisma ocorreu do lado oriental. É uma informação geralmente considerada inquestionável ou inquestionada. Na verdade, porém, a Sé que decidiu por inovações que não foram aceitas foi a Romana. A Católica Romana tornou-se uma Igreja mais sensível aos contextos históricos e adotou o latim como língua sagrada vinda do uso imperial no tempo dos césares. A chamada “ortodoxia”, ficou para o oriente….

O PAPA E A GUERRA

Os ortodoxos russos vêm de um século 20 muito difícil, pois o regime soviético tentou banir a religião no ensino e na exibição pública de símbolos e ritos. Existe uma forte tendência em qualquer igreja que venha do quase banimento, em se tornar aliada da “nova ordem”. O alinhamento do Patriarca Russo com o governo russo tem este sentido. Contudo, o Papa Francisco acredita que os cristãos devem fazer uma sólida corrente para o cessar-fogo imediato na Ucrânia, apesar da pouca presença de católicos romanos no conflito. O Papa está no papel de Papa….

QUAL O LADO DE DEUS?

Se o meu eventual leitor buscar notícias religiosas deste conflito, verá que as bençãos oferecidas por sacerdotes cristãos ortodoxos russos, por ortodoxos ucranianos e, às vezes, até por sacerdotes romanos, são para soldados dos dois lados. Nos lembra aquela situação dos jogos de futebol: se o jogo terminar 1×1, será fácil notar que os dois times agradeceram a Deus. Este Deus infantilizado da contemporaneidade dificulta negociações de paz de alto nível e descredibiliza a autoridade moral da religião. Deus nada tem a ver com as razões humanas deste conflito.

CESARISMO MORAL

Tanto o Papa quanto o Patriarca, são herdeiros da lógica simbólica dos césares do antigo Império Romano. Estão em busca do que eu conceituei de Cesarismo Moral. Ou seja, ao invés de terem armas como os antigos césares, buscam na autoridade moral o convencimento de governantes diante da guerra. Estes importantes líderes religiosos deverão ter papel importante em um futuro processo de cessar-fogo e, quem sabe, de pacificação entre as duas nações. Porém, seus poderes morais isolados não conseguirão aplacar a ira dos homens….

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