PATRIMÔNIO

A Administração do Patrimônio da Santa Sé (APSA), numa ação sem precedentes na história da Igreja Católica, trouxe a público um relatório completo sobre o patrimônio do Vaticano dentro e fora dos seus muros. Em princípio, os números impressionam pela grandeza, mas merecem um olhar refinado.

PRÉDIOS

Segundo as notícias, “o material de 30 páginas mostrou que o Vaticano é dono de 4.051 propriedades na Itália e cerca de 1.120 em outros países, sem contar embaixadas ao redor do mundo.” Aquilo que indicaria opulência, logo torna-se questionável quando sabemos que 40% destes imóveis são institucionais, ou seja, hospitais, escolas, abrigos, etc. Em outras palavras, não são rentáveis para a Santa Sé termos contábeis…  Outro dado: 14% do total compreende imóveis alugados dentro do valor de mercado, pois o restante foi negociado abaixo do valor.

INVESTIMENTOS

Os bons investimentos que o Vaticano realmente possui estão em imóveis aguardando valorização em Paris, Genebra e Londres, principalmente. Por outro lado, a estrutura burocrática, a manutenção e as ações de prevenção dos imóveis e o custo da mão de obra na Europa, tornam as contas bem mais aproximadas do que se imaginaria entre despesas e receitas. Além disso, o patrimônio acumulado em tantos séculos de história talvez não traga somente boas lembranças ao europeus…

DESCAPITALIZAÇÃO SIMBÓLICA

Ostentar grandes prédios em templos magníficos com torres ascensionais erguidas na direção do divino, foi um excelente meio de divulgação e convencimento até o século 18, quando a crítica anticlerical se avolumou, questionando os excessos do clero. Hoje, estas mesmas construções estão muito mais para símbolos da opressão  e das perseguições ocorridas no passado e que teriam sido extintas graças a um pretenso “pensamento livre” e a pretensas revoltas contra elas ou contra ela, a Igreja.

A HISTÓRIA DE VOLTA

Restabelecendo um pouquinho da história, é preciso notar que o sentido da acumulação patrimonial era outro na Idade Média e mesmo na Idade Moderna. As noções pré-capitalistas medievais apontavam estes monumentos como símbolos de poder em si, o que não era pouca coisa. Depois disso, a partir do século 16, o mercantilismo também indicou a acumulação como uma forma de fortalecimento econômico. Hoje, instituições semelhantes buscam sustentabilidade e usos racionalizadas do espaço e das construções. Ou seja, o modelo católico envelheceu do ponto de vista material, gerando altas despesas sem grande retorno, mas também do ponto de vista simbólico, ressignificando monumentos salvíficos como aterrorizadores…

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